Perdida.
"Deitada naquela cama enorme caiu sua ficha. Ela não pertencia mais àquele homem. Não era a ele que seu corpo desejava e sua alma ansiava. O prazer havia se tornado incompleto, a angústia tomava conta de seu peito e tudo o que ela queria era sair correndo dali. Quem sabe ligar para o verdadeiro dono de seu corpo e sua alma chorando só pra ouvi-lo dizer que a amava ou tomar um banho para tirar os vestígios daquele sexo de seu corpo e deitar na cama o mais enrolada possível chorando as lágrimas de seu arrependimento momentâneo. Sim, momentâneo, pois ela sabia que no dia seguinte nada mais daquilo existiria. E sabia também que não ouviria só de seu amado que ele também a ama, mas sim que ela é uma boba que chora por qualquer coisa. Ah, se ele soubesse metade das dores que ela carrega e de seus motivos..."
* * *
Eles resolveram se encontrar. Só Deus sabe o porque ela ainda insistia nisso, mas estar com ele era bom. Ao lado dele ela podia ser livre de máscaras e baixar a guarda, já que ele a conhece tão bem. Ela chega no bar e ele já está lá. Bata branca, bermuda cáqui e tênis. Um tênis que ela não gosta, preferia que ele estivesse de Havainas branca. Já ela não poderia estar mais reluzente aos olhos dele. Um vestido longo e preto tomara que caia, feito naquele pano mole que se ajusta ao corpo. Um casaquinho leve por cima e sandália preta rasteira. Os cabelos molhados, cacheados abaixo dos ombros e um leve batom cereja. Ele ficou perplexo quando a viu, literalmente sem palavras. Após alguns segundos, tudo o que conseguiu dizer foi "você está maravilhosamente perfeita!". Ela sorri e sabe que havia escolhido aquela roupa especialmente porque ele gostaria. Uma mania feia que ela tem de sair seduzindo Deus e o mundo, mesmo que não não queira nada com a pessoa, só pra demonstrar poder.
Conversaram, beberam, foram pro motel. Caminhando na noite escura de mãos dadas, ele fazendo projeções de como seria um futuro deles juntos. A mente dela passeava na noite, em como ela se sente livre caminhando na madrugada com a rua quase silenciosa, literalmente uma Dama da Noite. Teve a sensação de já ter feito isso muitas vezes, quem sabe em outra vida, acompanhada apenas pela lua a guiá-la. Chegaram, tiraram a roupa, deitaram juntos. Beijos e carícias leves. Nada sexual, apenas um troca de carinho, de confiança. Algum tempo de conversa e eles já estão agarrados, aos beijos molhados e fora de encaixe. Ele nunca soube beijá-la de forma perfeita. Era sempre aquele beijo calmo, como quem tem medo de quebrar ou machucar. A boca ligeiramente tremendo, as mãos também. Daquele beijo ressequido, onde a língua não busca, mas se esconde. Ela ansiava aqueles beijos tórridos de amor onde duas almas se encontram e se encaixam. Pelo que ela lembrava, nunca ela havia se perdido nos beijos dele. Tudo bem, pode ter ocorrido uma vez e ela não se lembrava bem se era pelo beijo ou pelo excesso de licor que havia ingerido...
A boca dele no sexo dela atiçando, mordendo, beijando, lambendo, jogando-a além de seu limite. Ele suga a parte mais sensível de sua fenda, passando a língua devagar, como ela já havia dito que gostava e ele aprendido. Bebia um pouco da água gelada e deixava escorrer pelo seu sexo. Ele permanece ali por muitos minutos, unica e exclusivamente dedicado a dar prazer a ela, dizendo o quão diferente é seu gosto, o melhor que já provara. Ela não quer gozar. Se segura por bastante tempo, achando desleal ter orgasmos com um homem que não é o que seu corpo deseja. Seria um engodo, uma falácia. Mas e daí? Seria melhor do que chegar em casa culpada e com aquela sensação de compressão no ventre do gozo contido. Ela goza. Ligeiramente perdida, ligeiramente contida. Enquanto ela se recupera, ele suga todo seu mel, beijando o interior de suas coxas e subindo para adorá-la com o resto do corpo. Beija sua boca e deita-se sobre ela, completando-a internamente, escorregando-se levemente para dentro dela. Força um pouco mais, dando as mãos, beijando, olhando-a nos olhos. Nesse momento ela veste a proteção para que ele não perceba que ela está longe dali. Ela goza de novo pensando em outra pessoa, em outros momentos, em outra cidade. Ele goza logo depois, farto, firme, jogando-se sobre ela, afundando em seus cabelos. Enquanto conversam, ela chupa, morde de leve, engole o pau dele. Sem muita vontade, mas a postos a dar prazer a ele. Lambe com carinho, com vontade, devagar como ele gosta...
Um tempo depois ele está sobre ela, fazendo massagem em suas costas. Ela pensando em outras mãos, em silêncio, quando uma lágrima corre em seu rosto e ela se afunda no colchão para escondê-la. Ele beija suas costas, morde sua cintura e desde para suas pernas. Lambe seu sexo e vai subindo, mordendo com força cara pedacinho de seu corpo. A transformação ocorre aí. Ele se torna quase um predador fazendo dela sua presa. Mordendo forte, marcando um pouco, deixando vermelha. Isso o excita. Isso a liberta. Ela aguenta as fortes mordidas sem reclamar, como uma punição por estar ali, por tudo o que tem feito ultimamente, Ele continua e logo está dentro dela, com força, de bruços, exalando toda aquela coisa visceral que ele tem dentro de si, mas que ao mesmo tempo não possui a pressão correta. Ele continua com ela de lado, pedindo que ela rebolasse e ela seguindo suas ordens. Aos poucos ela é absorvida para outro mundo. Um mundo de dor, um mundo distante daquilo, daquele local. Ela se olha no espelho e não se reconhece. Vê apenas uma sombra de si mesma, quase em preto e branco, forçando-se a uma coisa que seu coração não queria.
Ele aproveita cada segundo, achando que ela está a apreciar. Como ela finge bem. Consegue colocar um sorriso nos lábios e uma capa nos olhos e enganar a todos à sua volta quando quer. Até a ele. Ele que se enrosca nela deleitando-se no prazer que o corpo dela proporciona a ele. Ela quer chorar. Ela quer gritar que está tudo errado. Quem sabe ter por um momento o seu amigo e não o homem. Mas ela sabe que essa divisão não existe mais, se é que um dia existiu. Enquanto se olha no espelho e vê que não queria estar ali. Que talvez nem quisesse estar viva. Neste momento ela percebe-se perdendo toda e qualquer vontade de estar ali e junto se foi sua lubrificação. Diminuía drasticamente e ela fez o que nunca havia feito na vida. Pediu a ele que parasse, mesmo que sem saber se era por ele ou por ela. Ele para, a abraça. Ela pede desculpas. Ele, como sempre, um cavalheiro, a abraça e diz que não há nada do que se desculpar, que não estava ali pelo sexo. Quem sabe nem ela estivesse. Ou até estivesse. Talvez o sexo seria uma forma de diminuir ou encobrir sua carência. Ele adormece por alguns minutos ao lado dela, que sentada na cama de pernas cruzadas, o observa e pensa em quantas vezes já sentiu raiva dele por dormir quando ela não conseguia. Não via razão para dormir em motel. Se está com sono, vai para casa. Mas não, ele queria a companhia dela, queria acordar ao lado dela. Ela não poderia dormir ao lado dele. Nunca pôde. Sabe-se lá porque, apenas uma vez em tantos meses juntos ela dormiu por meia hora e acordou com um terrível pesadelo.
Decidem ir embora. Ele paga a conta, eles saem como se estivesse tudo bem. Ela com um semi-sorriso no rosto, fingindo-se de cansada fisicamente. Na verdade seu corpo estava ótimo. Seu emocional estava em frangalhos. Ela se sentia um puta. Não uma puta, das que cobram, mas sem valor, suja, sem brilho. Ele a deixa na porta de casa e vai embora. Ela toma um banho e deita nua na cama, enrolada em seu edredom, querendo esquecer de tudo, esquecer do mundo. Ela se culpa e ao mesmo tempo tenta arrumar desculpas para suas atitudes. Não existem desculpas, só um vazio no peito. Assim ela adormece, querendo que o novo dia leve embora todo peso que ela vinha carregando. Mas para isso antes ela precisaria se encontrar...
Tá viva ainda?
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