Marcação

Sua língua passseia pelo meu corpo como quem acaricia um instrumento de couro macio. O sorriso, num misto de escárnio e sedução, abrilhanta a noite como quem desafia os deuses. 

De bruços, sua mão atiça como quem toca um surdo: marcando o compasso para que eu entre no contratempo do desejo. Resisto. Me afundo em seus olhos e me deleito em seu gosto. Pedaço a pedaço, minha língua reconhece o terreno do seu corpo. Me sinto a sua garrafa no tilintar da chave, atenta aos seus movimentos e respondendo a cada comando. Me conduz, extrai de mim os acordes perfeitos que completam sua música. 

Como cuíca, me entrego em suas mãos. Vou e volto comandada pela sua vontade, os sons incontidos do
meu corpo respondem a você como a um mestre de bateria. Toca meu corpo como quem puxa um barbante solitário, produzindo gemidos e lamentos indizíveis. Na dobrada do surdo de primeira, bunda pro alto e mão espalmada me encontram de bruços pro seu prazer. E pro meu também. Do couro que se estica e esconde até a pele de curvas, maciez melada de carnes escondidas, você encontra o instrumento do meu prazer. Seu dedo me penetra devagar dando o tom que guia meus gemidos. Apenas um é suficiente pra escrever uma sinfonia.

Acordes do instrumento que se toca com um dedo só, aliado ao sopro que sai da sua boca e encontra o bico do meu seio. A música está composta, apresenta-se ao publico seleto de um só.

Você segue marcando o compasso. Uma estocada, duas, a sonoridade fúnebre do prazer da pequena morte, aquela que ansiamos sentir tantas vezes, que na realidade, mais parece comemoração. Geme, mete, urro, gargalho. Mete e lambe, chupa, beija. Meu corpo treme no desejo incontido. Eu gozo com força e gemendo baixo e suas mãos me seguram firme. 

Começa a próxima música...

Um comentário:

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