(Amor)ais

Não precisava de muita atenção para perceber a brasa da paixão ardendo sob suas peles. Se movimentavam como se um orbitasse o outro, como se um fio invisível os ligasse e os mantivesse conectados. Ele estava completamente encantado e ela experimentava toda aquela novidade de se sentir desejada e respeitada, cuidada e exaltada. 

Não que não soubesse o gosto que o assédio masculino deixa na boca. Sabia desde muito cedo o quão dilacerador podia ser o desejo, em especial quando se é o objeto dele, sendo reduzida apenas a isso. Mas ali, ao lado dele, dividindo a vida e a cama, seu sono era mais leve. A profundez de seus olhos escuros se tornava mais brilhante, seu olhar de anoitecer e o sorriso de brisa em dia ensolarado encontrava as gotas do arco íris em todas as suas cores. 

Seu corpo pequeno parecia encaixar-se perfeitamente no dele, e confortavelmente cabia ali, aninhada como se fosse feito para isso. Ele adorava observa-la. Seu jeito, seus olhares, suas inquietações, sua excitação. A forma como a sobrancelha dela arqueia quando incomodada com alguma coisa. E ao olhar para ele, ela sentia uma vontade genuína de colocá-lo no colo, ao mesmo tempo ansiava a proteção dele. 


Ele era fascinado pelo seu jeito que oscilava entre mulherão e moleca, firme e doce, mas que também sabia derreter em seus braços. E quando isso acontecia, deixava à mostra seus traços de fêmea que deseja ser capturada, mas também deseja caçar, e se enrolava nele feito cobra ao abraçar. Deitada, o corpo era feito de montanhas em vales, grandes e pequenas, que se contrai ofegando e deixa os cachos espalhados pela cama, enquanto ela arfa, arranha e morde os dedos se segurando para não gritar. Ou grita e deixar sair o calor que se acumula e prepara em seu ventre, aquele círculo de energia que aquece todo corpo e explode quando controlar o prazer não é mais uma opção. 

Por cima ela é deusa. Olha-la de baixo o fazia sentir quase como se estivesse levitando ao contrário, onde ela o embalava e enlouquecia. As mãos na cintura fina, que por vezes apertavam a bunda grande, causavam a ilusão de que conduziam, mas o poder era todo dela. Entregue, não restava nada a não ser aproveitar cada instante do prazer extremo que dividiam a dois. 

As bocas se tocavam, as línguas se lambiam, o corpos se encaixavam. Ele a penetrava enquanto ela marcava suas garras nele, no corpo e no espírito. Ele encontrava a redenção de seus pecados em cada curva do corpo dela, fosse da cintura, do sorriso ou quando ela deitava de bruços, meio jogada, aproveitando o fim da luz da tarde, como quem pede pra ser saboreada. E ele saboreava. Cada pedaço de pele melada que guarda o cheiro de uma mulher, aquele que ela jorra quando o ápice do prazer olha nos olhos do amor. 
Saboreava o gosto do gozo intenso dela e o quanto isso o alimentava de vontade de viver. Sentia o próprio prazer escoar quando ela rebolava, daquele jeito que o enlouquece, perdido entre cachos, sorrisos e afagos, eterna fogueira que nunca acaba de queimar, sede que só se mata no corpo dela e fome que ela tinha de consumi-lo e guarda-lo dentro de si. 

Em pé, ela fazia todos os dias valer a pena. Ao tomar café juntos, andar pelas ruas ou nas conversas necessárias de todo casal. Quando ele repousava a cabeça em seu colo ou o corpo entre suas pernas, era ali seu lugar sagrado. Completavam-se em afeto, engoliam-se em tesão, desejavam-se em olhares e derretiam em melodia e música que só o amor, quando é correspondido, sabe tocar. E os cachos dela seguiam sendo a moldura desse amor, que as vezes era de sol, mas também era de luar. 

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