Fome

Precisava se alimentar. Sentir a pele aquecida e o estômago preenchido, os sentidos aguçados, aquela eletricidade inundada em prazer quando estava saciada.

Sentia a pele esticada e áspera sobre os músculos, os ossos ligeiramente enfraquecidos e a garganta seca. A fome era dolorosa. Era como se um animal morasse dentro dela, arranhando suas garras na superfície, numa constante lembrança do que acontecia se deixasse a fome se instalar. E ela estava ali, agora, apesar de contida. Passou por vários estágios até chegar no controle do desespero. A loucura, a dissimulação, o implorar o calor do alimento escorrendo por sua língua. 

Foram centro e trinta dias cumprindo o luto. Na verdade, nem sabia explicar o porquê da cerimônia, afinal, há muito aquele não era mais seu companheiro de vida. Seus caminhos haviam se separado, mas, ao receber a notícia, se sentiu compelida a honrá-lo de alguma forma. 

Sentiu-se tola. Poderia ter bebido uma garrafa de Veddett - a cerveja favorita dele, ou rum gelado com hortelã, ouvindo a música mais "folclórica" possível para relembrar os momentos que dividiu com ele. 
Ele era desses que (não) reconhecia a própria pequenez através do suposto exotismo do mundo, sendo atraído por tudo que considerasse "diferente". E foi assim que se aproximaram. Ela foi a dose de "exótico" que ele precisava para se sentir vivo novamente. Padecendo do pior tipo de cegueira, falhava miseravelmente em perceber que isso gritava mais sobre seu próprio tamanho do que sobre o que seus olhos fitavam e ouvidos ouviam. 

Honrou sua memória, os momentos que dividiram, passeou no passado e agora precisava seguir em frente. 
O corpo doía pela constrição de movimentos, mas conseguia caminhar com facilidade. Não era sua primeira vez. Reconhecia, ainda, o cheiro de sua velha cidade. A mistura do suor que exalava dos corpos, o som dos automóveis, caminhões e bicicletas, passos que preenchiam as ruas, músicas variadas tornavam o ambiente movimentado. Tudo parecia muito e seu interior reconhecia isso. A fome disputava a atenção com o resto dos estímulos, deixando a cabeça zonza e o olhar agitado. 

Caminhou alguns metros e foi atraída para um velho lugar conhecido, de paredes laranjas desbotadas e o rosto severo de Luiz Gama adornava a entrada. A mente voou ao passado, achando curiosa a semelhança entre o olhar da pintura e sua própria memória. Entre as paredes, à frente de um portão de ferro entreaberto, algumas pessoas se aglomeravam, conversando animadas e barulhentas. 
Cruzou o portão e foi invadida por muitos cheiros, como se pudesse senti-los na ponta da língua. 

O calor parecia deixar o odor de gordura que subia na fumaça ainda mais forte e, do outro lado, parecia ter uma barraca de pizza, dado o aroma de queijo e orégano que passeava com a brisa quente. A cada vento, sentia-se em uma churrasqueira, quanto mais ventava, mais calor fazia. 
Caminhou em direção à pizza e pediu uma, sem que a face demonstrasse o menor interesse. Puxou o dinheiro do bojo do sutiã e pagou, voltando para perto do portão e se apoiando na parede proxima às duas filas de banheiros azuis e verdes de plástico. Ali conseguia ficar fora das vistas e, ainda assim, ter uma boa visão dos passantes. 

A mão segurava a pizza como quem espera esfriar, enquanto observava o vai e vem de seres aponhados como formigas.
Em meio a multidão, um homem negro, alto, de boca farta, olhos pequenos e cabelos cacheados chamou sua atenção. Ele pareceu que se sentir observado, olhando ao redor, até que seus olhos se cruzaram. Sentiram uma conexão instantânea e um desejo percorrer o corpo. 

Mordeu o lábio e meneou a cabeça em sua direção, um convite que ele aceitava com um sorriso tímido, andando despretensioso até chegar perto dela. 

- Oi! - ele arriscou, passando o dedo na sobrancelha, quase envergonhado. 

Os olhos se acenderam em excitação e a mão foi em direção à blusa dele, puxando-o em um beijo intenso. A pizza encontrava seu caminho no chão, caindo dobrada em uma pequena poça e espalhando algumas gotas ao redor, sem que ninguém visse ou percebesse. Assim como eles, alheios ao mundo, que sumiram entre os altos banheiros de plástico que ocupavam a quina do lugar. 

Atrás deles, uma porta preta também passava despercebida por quem não conhecia o lugar. Ali havia um velho banheiro, um quadrado espaçoso que protegeria ambos dos olhares curiosos e possíveis celulares. Detestava essa época insuportável onde tudo é capturado por uma câmera de vídeo e isso irritava profundamente. Perdeu-se a diversão solta, do momento, que só diverte os presentes e se perde no tempo e na memória. Tudo era registrado, mesmo que contra a vontade. Não que fosse fazer o que queria ali, mas desprezava a perda da espontaneidade que a tecnologia trouxe. 

Entraram no banheiro aos beijos, num rompante. A porta bateu na parede, fazendo barulho, que foi abafado pelo som exterior. 
Toda timidez pareceu sumir daquele corpo. A saia foi puxada até a cintura, deixando a calcinha preta de renda à mostra. Mãos passeavam pelo corpo em direção aos seios e os libertava do sutiã, enquanto a boca beijava qualquer pedaço de pele que encontrasse pela frente. 
Cravou as unhas nas costas e arranhou, ouvindo algo como um urro saindo entre o beijo. Não era um urro de dor, mas de tesão, enquanto a virilha pressionava contra seu sexo com força. 

Botou um bico do seio na boca e chupou. Passou a língua na pontinha e enfiou uma mão na calcinha, sentindo o pau ser apertado e apalpado por ela. Chupava devagar até que ouviu baixo em seu ouvido:

- Morde! 

Obedeceu, passando os dentes de leve, percebendo a respiração acelerar e os gemidos aumentarem. 

- Mais forte - a voz imperativa dizia novamente. 

Pressionou os dentes ao redor do bico e apertou com força ao mesmo tempo que os dedos bailavam dentro dela. A perna apoiada no vaso abria espaço para que ele se divertisse. Completamente melados, roçavam o clitóris inchado devagar e ela tremia, perdendo as forças, em uma gozada intensa e cambaleante. 

Colocou os dedos na boca, sentindo o gosto e o cheiro suave que ela carregava entre as pernas. Queria sentir aqueles lábios macios envolvê-lo em sua parte mais sensível, que ela também sentisse seu gosto. Queria olhar seu rosto enquanto sentia seu pau sugado e suas bolas lambidas. 

Como se adivinhasse seu pensamento, abaixou à sua frente, colocando o pau para fora com facilidade. Talvez até demais, mas não pensaria nisso agora. Em alguns momentos a experiência é uma dádiva. Esse era um deles. A quentura da língua deixou o pau ainda mais duro e a cabeça pulsou em resposta. 

Esforçou-se ao máximo para que os dentes não o arranhassem. Lambeu a lateral, a base, a cabeça, o saco. Brincou com a língua e sugou, de uma só vez, boca adentro. Gemidos ecoavam nos azulejos brancos, a janela denunciava os ocupantes embaçando os vidros sujos e empoeirados, que ninguém via. Chupou até quase levá-lo ao limite, mas foi puxada para cima pelo pescoço antes que pudesse continuar. 

Mãos ágeis viraram-na de costas e empinaram a bunda, deixando o cuzinho livre para receber uma linguada profunda enquanto o dedo esfregava o grelo com vontade. Substituída pela pica envolta em látex, forçou a entrada devagar enquanto via a boceta escorrer pela parte interna das coxas. Como era apertada, apesar do corpo ligeiramente frio demais para o seu gosto. Balançou a cabeça e espantou o pensamento. Sentiu cada centímetro ser engolido por ela, que rebolava no pau gemendo baixo e olhando para ele ocasionalmente. 
Aquela cara de safada deliciosa tiraria sua concentração, mas olhar para a bunda batendo em sua cintura também não ajudava muito. Concentrou a mente em um ponto fixo da parede e seguiu metendo. Queria fazê-la gozar de novo, dessa vez dentro dela. 

Tirou o pau e virou-a de frente. Abriu as pernas, apoiando-a novamente no vaso e enfiou a cara na boceta melada. Sugou o grelo e depois meteu.

Gemeu ao sentir-se preenchida e possuída. Entrava e saía esfregando o grelo ao mesmo tempo. Não demoraria muito para gozar. Levantou o rosto e olhou nos olhos dele. 

- Quando eu gozar de novo, não se mova, e se você for gozar, não grite. - ordenou. 

Um beijo forte demonstrou que ele obedeceria a mensagem. Metia e esfregava o grelo duro ao mesmo tempo e sentia o corpo dela se aproximar cada vez mais. Logo a perna dela estava apoiada sobre sua coxa e os braços ao redor do seu pescoço. Os corpos se esfregavam com o vai e vem e se segurava para não queimar a largada. Ainda não. Queria tentar gozar com ela. 

Uma, duas, três botadas depois, a gozada veio farta, inundada pelo sabor metálico que escorria na língua e nos lábios. Os dentes perfuraram a pele com facilidade, e o líquido quente era sorvido com avidez. O instinto da caça tomava a frente, a mente ligeiramente alucinada de prazer e a fome desesperada ansiava por mais. Precisava se controlar, não queria causar uma cena ali e ter que lidar com as consequências de se deixar levar longe demais. Saciaria duas fomes em uma sem grandes comoções.  

O corpo rapidamente se aqueceu e, ao sentir a boceta melada e quente, perdeu o controle, enchendo o preservativo de porra, quase imóvel. 
O misto de dor e prazer foi o ápice para que não se controlasse, mesmo que não conseguisse gritar e confuso pelo que estava acontecendo. Gemia baixo com os olhos - quase - arregalados. 

Continuou sugando. Precisava de mais. Queria mais, mas se continuasse, ele desmaiaria e depois encontraria a fatídica e mortal última gota. Parou. Lambeu o sangue que escorria pelo pescoço até que estivesse limpo de quaisquer vestígios. Olhou novamente no rosto de sua vítima e apreciou sua beleza. Como era lindo aquele humano. Há quantos séculos ela não partilhava de sua condição mortal e a beleza frágil de quando a vida pode se perder a qualquer momento. Estava ligeiramente pálido e com um rosto impassível. 

- Esqueça, limpe-se e saia - ordenou novamente, fitando-o nos olhos. 

Limpou-se rápido, ajeitou a roupa e saiu. Sumiu antes que ele pudesse se virar, misturando-se aos corpos na rua. Estava, mais uma vez, protegida pela escuridão da madrugada e liberta de seu período fúnebre. A pele tinha novo aspecto e a beleza era ainda mais chamativa. A força havia sido recuperada. Os olhos brilhavam como uma predadora em busca de sua nova caça. O ventre ainda vibrava e escorria pelas gozadas consecutivas. Que bom retorno seria. Agora, viveria ao máximo, mesmo que já estivesse morta há mais de trezentos anos. 

Sentia fome, e dessa vez, não era de sangue. 




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