Inacabado


O corpo respondeu porque a memória também guarda a ordem do desejo. Como gavetas sendo abertas, as imagens voam pela mente, causando as mesmas sensações de quando a realidade se fez lembrança. 

Um flash me arrepia e quase posso sentir sua mão passeando pelo meu corpo. Seus lábios envolvem o meu e você suga devagar, descendo pelo pescoço até chegar no seio. A língua roça o bico com vontade e uma mão aperta o outro quase com força. Meus gemidos começam a preencher o quarto. Ali eu só quis deitar e te entregar o controle sobre meu corpo. Abrir mão de qualquer necessidade de manter a postura e não resistir. Deixar você comandar cada sentido e fazer de mim inundação pra se afogar.
E você se afogou. Sobre mim, seu rosto parecia esculpido em mármore negro, seus olhos e sua boca me buscavam com cuidado e mordia meu pescoço. Desceu lambendo a pele que encontrou pelo caminho. Enclausurou meu grelo entre seus lábios, enquanto sentia meu interior se desfazer em seus dedos. Sem que eu precisasse dizer, soube como e onde, ouvindo meu corpo e o que ele pedia, fazendo meu ventre vibrar e a respiração se tornar cada vez mais ofegante. 

Minha mão escorrega em mim, buscando repetir seu movimento colado em minha pele, falhando por não ser a sua, denunciando sua falta. Mas sigo percorrendo o mesmo caminho, tocando onde antes você tocou e quase ouvindo sua voz no meu ouvido. 

Outra gaveta se abre. Acaricio seu rosto e rebolo na sua boca. Os dedos giram, entram e saem, brincam na portinha. A língua segue subindo e descendo e as pernas tremem uma, duas, três vezes. Você segue me torturando, forçando mais rápido e intenso, as pernas se abrindo ainda mais para te receber. As margens não dão conta de segurar o alagamento que escorre e molha o lençol, fruto do desejo - há tanto tempo, contido. 

Me toco e abro mais as pernas, ansiando sentir você entre elas, preenchendo o vazio interminado que você deixou. Em silêncio, sinto meu dedo afundar no tesão que você provocou, ainda lá, pulsante e quente. 

Um flash cruza minha mente. Deito de bruços. Você monta sobre minhas pernas e alisa minhas costas. Entre carinho e massagem, por um longo tempo, seu olhar pousa sobre meu corpo. Será que gosta do que vê? O que deve estar pensando? O que desejaria fazer agora se tivesse tempo e a permissão fosse concedida? Você aperta minha bunda de mãos cheias e morde meu pescoço. Naquele momento, quase pedi um tapa para despertar da languidez pós gozo. Não foi necessário. Você repousou seu corpo sobre o meu e apoiou o queixo no meu ombro, dedilhando melodias de prazer enquanto me prendia a si. Não era música tocada a dois, você fez de mim instrumento pro seu próprio prazer, sem que eu nem te tocasse. Compôs um solo comigo, me fazendo também plateia, e eu assistia atônita e sem qualquer força ou desejo de resistir. 

Nossos corpo colados, quase um sobre o outro, sua respiração ofegante tão perto. Desejei você dentro e mordendo meu pescoço; você dentro e olhando nos olhos; você atrás e a coluna arqueada, toda empinada e aberta pra você.

Roçou o dedo no grelo e eu te ouvia gemer e dizer coisas deliciosas em meu ouvido. Devagar, rápido, com força. Enfiou, até o fundo e, quando tirou, sentiu o melado escorrer corpo a fora feito água minando do solo. Continuou. Quanto mais alagado, mais você se deleitava. Na boca, nos dedos, meu grelo sensível e o corpo respondia mais uma vez ao seu comando. 

Sinto meu corpo tremer, lá e aqui. Lá os gemidos saem descontrolados e você pressiona ainda mais seu corpo no meu e eu gozo em seus braços, entregue, voando rápido perto do solo. Aqui, instintivamente, fecho as pernas com força sentindo a explosão no ventre; as paredes da boceta contraindo e gemendo entre dentes. Trêmula, engulo o grito, porque eu queria, mesmo, era gemer pra você. 

Agora, escrevo. Gavetas abertas, as lembranças saltam. A nossa e a minha, ainda melada, ainda sentindo um frio na espinha com cada imagem que vem à mente, mesmo tanto tempo depois. O corpo responde novamente e é involuntário. Já sinto o ventre pulsar e a boceta melada escorrer, nua, pronta pra te sentir de novo, mesmo que só na memória. 

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